# cheiro das lareiras de estranhos no meu cabelo
# a árvore vermelha
# afogamentos sem água todos os dias
# nódoas-negras nos joelhos
# hipbones
domingo, 20 de novembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
do pisar das folhas
as árvores despiram-se todas.
o chão coberto das roupas das árvores.
árvores e roupas
a exibirem-se em danças outonais.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
da partitura
Cordas. Amarras nos ouvidos.
Arrepio no ventrículo direito do coração.
Cordas. A sabedoria da composição. Branco
no branco. Corpos. Sobreposição dos corpos.
Aureolas azuis. Cordas. A dizerem:
Vê se te acordas. A visão azul do mundo.
O piano que repete. Acordas.
O sentir do arquear. Baloiço. Quando inclinas a
cabeça. Baloiças.
Olhos. Sem ver. Olhos. Que choras. Olhos.
Que acordas.
Acordo. Para o azul do mundo. Acordas.
Arrepio no ventrículo direito do coração.
Cordas. A sabedoria da composição. Branco
no branco. Corpos. Sobreposição dos corpos.
Aureolas azuis. Cordas. A dizerem:
Vê se te acordas. A visão azul do mundo.
O piano que repete. Acordas.
O sentir do arquear. Baloiço. Quando inclinas a
cabeça. Baloiças.
Olhos. Sem ver. Olhos. Que choras. Olhos.
Que acordas.
Acordo. Para o azul do mundo. Acordas.
(concerto do Max Richter)
terça-feira, 1 de novembro de 2011
do relembrar
“What the hell makes you so smart?” I asked.
“I wouldn’t go for coffee with you,” she answered.
“Listen – I wouldn’t ask you.”
“That,” she replied, “is what makes you stupid.”
lido há vários anos atrás, no piroso Love Story, que me veio parar novamente às mãos no dia de hoje.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
do fogo
calor no pé direito
ardor num dos olhos
chama no peito
incêndio na barriga
fogo pelo corpo todo
fogo pelos edifícios das ruas
fogo desenhado em asas de borboletas
o calor a resistir ao frio com malabarismos.
digo: ainda bem que começou a chover.
ardor num dos olhos
chama no peito
incêndio na barriga
fogo pelo corpo todo
fogo pelos edifícios das ruas
fogo desenhado em asas de borboletas
o calor a resistir ao frio com malabarismos.
digo: ainda bem que começou a chover.
sábado, 24 de setembro de 2011
do abraço
o abraço é um eliminar do vazio entre os corpos. o abraço é o apertar do querer. o abraço é vida quando ela percorre todo o gesto. o abraço é a saudade de quando não se sente esse abraço há tempo demais. o abraço é o céu que beija a terra quando sorri. o abraço é a terra que nos segura os pés. o abraço são os peitos das pessoas a rirem. o abraço é o conforto na sua plenitude. o abraço é o adormecer no cansaço dos dias. o abraço é o dizer: estou aqui. o abraço é tudo o que tiver que ser.
era isto que queria dizer. não eram as palavras de mais ninguém.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
do estofo
O que é não ter estofo? É não ter uma capa a proteger os órgãos internos do meu corpo? É por isso que o meu coração quase salta pela boca e o estômago dilata e o fígado tem pontadas? É por isso que escrevo tantas vezes sobre o meu corpo, porque ele dói? Quando eu canto a minha voz fica mais bonita. E eu canto só para mim por isso mais ninguém pode dizer que a minha voz não fica mais bonita. «Mãe, o que é o escuro?» Sabes que ainda me faço essa pergunta? E foi por isso que chorei naquele dia? Porque o escuro são as palavras que ouço da boca de pessoas cinzentas. Tenho medo do escuro. Ainda assim, enfrento o medo todos os dias. Mas agora estou a escrever porque o meu coração está a doer e eu tenho medo quando ele dói. Foi-me diagnosticado palpitações. Será que é isto não ter estofo?
estofo |ô|
s. m.
1. Tecido, pano.
2. Algodão, lã, crina, etc., para chumaços.
3. Enchimento (de tecido, espuma, etc.) que preenche o interior dos móveis que servem para assento ou encosto.
4. Entretela, chumaço.
5. Desenho feito com ponteiro (levantando o dourado).
Fonte: Priberam
E é assim que de repente me sinto um sofá.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
da violência
sussurro nervoso das artérias que ligam ao coração, não me escondo do tremor, enfrento-o com as pernas fracas mas com o coração incendiado. não tenho controlo sobre os meus próprios pulsos e punhos que se encerram sobre si próprios e se envolvem na violência do gesto, a prender a vontade de esmurrar. tenho me defendido sempre com as palavras. são sempre as palavras que salvam. e os olhos, que sem piscar, transmitem a luz que nunca se apaga: não me vences, és igual a mim, não me vences. que se cale a violência - que se solte nas palavras escritas - que a mudança se faça assim - estúpida, mas lúcida.
domingo, 28 de agosto de 2011
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
do pensar
pensar é estar com gente e pensar é fazer coisas com outras pessoas pela noite dentro pensar
durante o dia
discutir
pensar até ficar rouco
pensar é exigir a vida
hoje que amanhã é amanhã e hoje é a vida que vivemos a pensar e pensar é matar a morte amanhã
pensar é cantar a vida de hoje.
Rosa
1919
das nuvens
pensamentos turbulentos que nascem das raízes dos cabelos e se ligam ao céu nos dias de trovoada.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
do desistir
enterrar os braços na terra até conseguir agarrar as raízes e enrolar os meus cabelos nelas. mergulhar a cabeça na árvore até que saltem todas as cascas velhas e o musgo me envolva num vestido verde. que as asas se esqueçam delas próprias e fraquejem até no vento mais forte. que esses braços nunca mais recebam um único raio de sol e que a respiração só volte quando o coração puder bater calmo e sereno, quando o regresso à terra puder ser sem guerra nem pedra até ao fim de todos os tempos.
terça-feira, 19 de julho de 2011
do silêncio
«Num romance temos de usar palavras constantemente. Numa peça de teatro podemos usar pausas, cortes e silêncios. É daquilo que não é dito que quero falar, mesmo na minha prosa. Isso foi uma revelação para mim. Sento-me e escuto. Escrevo a partir do que oiço. Não conhecia esta história nem estas duas figura antes de escrever a peça. Isso é o mais interessante: mergulho no desconhecido e regresso com algo que desconhecia anteriormente. Quando era mais jovem não acreditava em nada. Hoje sou um cristão e um místico. O que mudou foi a escrita. Escrever é uma experiência religiosa, sem dúvida. Não sei de onde vêm as palavras. Tudo o que posso comprovar é que as escrevi. Mas não consigo explicar de onde emanam. Não sei quem sou.»
Jon Fosse
a propósito da sua peça I am the Wind
quinta-feira, 14 de julho de 2011
do norte
subida dos montes intermináveis e das escadas cheias de pó. uma nova casa acabada de nascer. o regresso ao campo: apanhar cerejas e ameixas das árvores e comê-las no segundo a seguir. beber licor e vinho do porto na adega do meu tio. ir aos cemitérios onde estão os meus avós. abraçar o Douro. estudar aquelas vinhas infinitas. entrar nas igrejas. chegar ao lugar de baixo e dizer boa tarde a toda a gente. falar com estranhos. deixar a porta de casa aberta. não ter medo das abelhas mas fugir dos besouros se os tocar sem querer. visitar os sítios da infância, os de sempre. fotografar com a memória. guardar com o coração. aquela terra num frasquinho no meu coração.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
do tremor
o sorriso foi mais fácil hoje em comparação aos últimos dias. o coração continua a bater depressa. taquicardia. a ansiedade está no meu pé, que não pára, dança constantemente, abana-se, agita-se, embrulha o meu corpo num tremor constante. força bruta. como se estivesse sempre a envolver-me num casulo para logo de seguida rasgar tudo. um segundo a tecer para no segundo a seguir o rasgar. movimento constante, por dentro e por fora, e palavras a transbordar. e segredos. escondidos nas dobras do corpo. e alguém grita, no meio da estrada - can you feel my heartbeat? e mapas nas ruas todas. e mapas nas mãos e mapas nos cabelos e nos pulsos. e depois os trajectos. os percursos. as linhas nos mapas. o meu futuro desenhado num mapa. a minha vida reduzida a um mapa. atravessar o mar só com os dedos para depois então lá mergulhar os pés. e. continua. não pára aqui. nunca pára por aqui.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
sábado, 4 de junho de 2011
escaravelhos
o céu a corar e um escaravelho grande preto e robusto está no chão deitado de costas enquanto esperneia. não desiste. aprende a nadar de costas sobre a terra. as patas a espernear. a terra é seca e feita de pedrinhas e ele não sai do mesmo sítio. um outro escaravelho está ao meu lado, de pernas para o ar, cansado de espernear. o que vos faz ficar assim? o calor? utilizo um pau que estava ao meu alcance para o endireitar. uma pata mexeu-se muito levemente. inclinei-o mas ele recusou-se e voltou a deitar-se de costas. insisti com ele e voltei-o direito a segurar-se num raminho com pequenas folhas verdes. o outro escaravelho conseguiu sozinho subir novamente à árvore de onde caiu. e eu, num vestido vermelho, escondida por detrás da árvore, sentada numa cadeira, a pentear os cabelos ruivos, observo: sossegada: o diálogo da natureza.
eu e os escaravelhos já temos hora marcada.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
é o que dá folhear cadernos antigos. um texto de 2006:
Se te ardem os olhos deixa-os arder. Pode ser que sintas algo parecido com fogo a pairar no teu fundo azul. Certifica-te primeiro de que és forte o suficiente para aguentar e só depois apaga-o chorando. Chora e fecha-os durante o tempo que precisares. Se dizem que os olhos também falam, de certeza que também eles devem ter os seus silêncios. Com as pálpebras cerradas, ficam pálpebras caladas. E do teu silêncio não tens de sentir medo.
domingo, 22 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
ontem na minha rua, um senhor refilava por de manhã ter falado contra o vento e por causa disso ter ficado sem voz. um jovem corria para uma senhora com um ramo de flores. na esquina uma senhora que me sorria. um outro homem, perto dela, rasgava um papelinho em mil pedaços e deitou-o no lixo. começou a chover.
do corpo
as nuvens pousam sobre lentos véus de corpos pesados como rochedos. há uma pausa no tempo quando se atravessa aquele vale e nos deixamos cegar pelo vento arenoso daquela paisagem. abrir os braços é a chave para abraçar e atravessar o vale. há paredes nesses corpos que parecem rochas que nos querem fazer crer numa instransponibilidade dos corpos. há pequenas grutas que são portas para esses corpos. há pequenos golpes de vento que são beijos nas nossas mãos. não são os longos lençóis a impedirem que o corpo dance. pois são as nuvens que pousam sobre os lentos véus desses corpos pesados como rochedos.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
das várias páginas
Como pano de fundo para uma história de auto-descoberta
Da narrativa em estilhaços e de temporalidade
Como usar as listas
Percebe-se que estão a calçar os sapatos errados
A aventura de aprender visitas, oficinas, concertos, cursos
As mulheres gostam de pornografia
Ouvir os discos, ler as letras, ver os filmes
Ouvir os discos, ler as letras, ver os filmes
Chegadas e partidas
Onde jaz o teu sorriso
Senhor de uma voz teimosamente independente
Um impressionante livro acompanha agora esse movimento
Mapa informal
A cidade que temos é a cidade que fazemos
Chá vintage em Sintra
Adivinhamos com antecedência as surpresas que ele nos quer fazer
Quem aqui chega não se coíbe de soltar um "finalmente " . Com tanta coisa boa a acontecer e outras tantas na manga.
Por vezes em forma de exaltação quase amorosa, outras reflexiva racional e interrogadora, outras alinhando repetições e referências como sinais para uma interpretação, ou preferindo encontrar relações com a realidade como caminho a desbravar.
Para que não fique em casa.
da apropriação das palavras.
domingo, 1 de maio de 2011
dos últimos dias
tenho histórias guardadas numa tela. sonhos disfarçados, sorrisos amados. tenho um gato que precisa de mim mas eu mais dele. tenho a memória da frase dela: «é o pulmão do meu irmão» depois de desenhar três breves círculos com pormenores por dentro. tenho confissões escritas num caderno, que não são as minhas. regressei ao azul com o corpo todo. mergulhei na ternura de outras pessoas. respirei fundo tantas vezes. recebi amor trazido do outro lado do mundo. tenho sentido o cansaço a acumular-se. a dor de cabeça. mas... ontem vi uma coruja, estava no ramo mais baixo da árvore, mesmo à beira do caminho. Tinha o pêlo muito castanho claro, quase cinzento os seus olhos semi-cerrados olharam directamente nos meus - tenho a certeza porque ela seguiu-me com a cabeça. tenho tropeçado menos nas pedras. tenho questionado mais. tenho tido menos medo.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
guardiã da casa. palavras guardadas, maioria escondidas. leva o meu nome por essas ruas. compra-me um vestido. fotografa-me no cimo de uma colina. escreve as primeiras palavras no teu caderno. não tenhas medo. descreve-me os cheiros. pinta-me as cores. fotografa a calçada que ainda existe. o sabor da água é diferente? a humidade é diferente? como é o pôr-do-sol? vais fazer com que os dias passem depressa? a voz veloz atravessando as horas, o tempo, o clima, as planícies e os montes. e o tempo a deixar de importar porque o abraço ficará aberto, incompleto, até a hora chegar. aguardarei. guardearei. memorizarei. e vou escrevendo.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Golpe Militar, 20 de Julho de 1928, Lisboa
Golpe Militar, 20 de Julho de 1928, Lisboa, upload feito originalmente por Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.
domingo, 20 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
do medo
agora que o meu olhar se prendeu nos vidros das casas em ruínas. agora que as ondas entraram pelas estufas adentro regando as flores da tristeza do mar abalado. agora que o mundo está mais um milésimo de segundo acelerado. agora que o mundo está ainda mais do avesso. agora que os meus cabelos já não são ondas que humedeço com a boca. agora que os meus pés são plantas que firo com as pedras do meu caminho. agora que os abraços não chegam. agora que o medo de sorrir é superior à vontade de o fazer. agora que os olhos são vazios. agora que as mãos são frias. agora que a terra ora me abraça ora me rejeita. agora que o meu coração acelera com o medo dele parar. o azul, descobri-o doença. e o branco, pode não chegar.
sábado, 12 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
do côvo
As mãos ásperas como as do meu avô, apenas ligeiramente menos inchadas. A trovoada violenta dos primeiros dias de Março, a chuva bem-vinda chuva. As galochas nos pés e o capuz na cabeça. coberta de azul e vermelho, suja de terra. Nem a chuva consegue lavar a terra. E as pedras pequeninas que compõem o caminho da quinta e que me fazem escorregar nas subidas e à beirinha do ribeiro. As galochas que acabam por me proteger de uma queda maior, na água. com a água pantanosa até aos joelhos. e o vermelho do meu vestido a ver-se de longe. os cabelos na boca, empurrados pelo vento, embrulhados na boca. o cuspir do vento que se aloja na garganta, que fica líquido. e os passos deles, a hectares de distância a aproximarem-se da minha casa. É uma quinta bonita em dias de sol e em dias de chuva. Os falcões desafiam os cavalos, os cavalos desafiam as flores e eu desafio a terra. Agarro-a com ambas as mãos como se tivesse fogo por dentro. E deixo que fique perto de entrar no meu sangue. A pele-cal. O sangue-fogo. A mulher.
quarta-feira, 2 de março de 2011
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
do calar-vos
não digam o meu nome. pronto, não digam o meu nome. abafem o som do meu nome. não gritem o meu nome. silenciem o meu nome. mordam o meu nome. que eu não quero mais existir por ele.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
do jardim
Falling Garden
San Staë church on the Canale Grande
50th Biennial of Venice, 2003
San Staë church on the Canale Grande
50th Biennial of Venice, 2003
The Doge (Mocenigo) needed a church so as to be able to have a monumental tomb built for himself, the church (San Staë) needed a saint so as to be able to be built, the saint (San Eustachio) needed a miracle so as to be pronounced a saint, the miracle needed a stag in order to be seen, and we built the garden for the reindeer.The visitors lie on the bed above the doge’s gravestone, and the garden thinks for them.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
das batidas
tenho livros à cabeceira da cama que não consigo ler
tenho demasiadas palavras escritas em folhas que não são as que queria escrever
se o musgo aos meus pés me prende aos rochedos
de certeza de que não irão crescer os meus medos
se o meu coração entretanto parar
sei que é à terra que me devo agarrar
tenho demasiadas palavras escritas em folhas que não são as que queria escrever
se o musgo aos meus pés me prende aos rochedos
de certeza de que não irão crescer os meus medos
se o meu coração entretanto parar
sei que é à terra que me devo agarrar
sábado, 19 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
do comboio
estava dois bancos à distância do meu. as calças curtas, com os ténis calçados sem meias, a camisa muito molhada e esfarrapada, o cabelo curto, preto, e a flauta no banco ao lado. passaram cinco estações até ele tocar. a flauta desafinada, as notas inventadas por instinto, a boca da flauta ao contrário, a curva da flauta nas mãos dele. e as notas desafinadas a desafinarem-me o coração. a senhora da frente a abanar a cabeça, a criança que não se cala a comentar cada estação, a ler todas as letras, como só uma criança sabe fazer depois de aprender a ler. e as notas desafinadas a habitarem aquele comboio como silêncio. música fora do batimento cardíaco. como se não houvesse sangue por dentro. as notas daquela flauta, duras, secas, como aqueles sapatos sem meias, a desafinarem-me o coração.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
da beleza
uma rocha-vulcão
que me engoliu num véu de espuma
a violência com que a onda abraça
a rocha
e a violência com que a explosão me chegou
ao coração.
doeu.
que me engoliu num véu de espuma
a violência com que a onda abraça
a rocha
e a violência com que a explosão me chegou
ao coração.
doeu.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
das janelas
as asas pesadas nas noites caladas
as janelas fechadas
a coruja que canta só quando o silêncio começa
e o som ecoa nas minhas janelas fechadas
o silêncio que se rompe
pelo eco das árvores paradas.
as janelas fechadas
a coruja que canta só quando o silêncio começa
e o som ecoa nas minhas janelas fechadas
o silêncio que se rompe
pelo eco das árvores paradas.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
all equal
as ruas cheias de ecos de pensamentos. as ruas cheias. os sacos de compras nas mãos. a chuva miudinha. era Londres, na Primavera. as ruas cheias. o globo do mundo nas ruas cheias.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
da Pena
as asas verdes misturavam-se com o verde das folhas do carvalho. o nevoeiro estava espesso e o ar que lhe saía da boca misturava-se com a neblina do ar. impossível esconder o olhar de admiração perante aquele pássaro refilão e atrevido. sorri para ele, claro. as árvores conversavam umas com as outras através do vento. as nuvens estavam por cima de tudo, uma mancha negra e pesada com um ar ameaçador e que me lembrava algo como o fim do mundo. não passava eu de mais uma silhueta na colina. o casado preto comprido. as botas que me protegem dos pés até às canelas. os cabelos ruivos que parecem sempre provocar a luz. o gorro azul para tentar disfarçar tudo o resto. os raios começaram. um relâmpago depois do outro. e a chuva torrencial. ali, naquele monte, deixei o vento afagar-me o pescoço, deixei a chuva molhar-me as bochechas e deixei que os relâmpagos se colassem aos cabelos. o chão tremia debaixo dos meus pés. os pequenos seres da floresta, não duendes, mas rãs, fugiram. fiquei a olhar para uma e pensei: que graciosa. deixei de ver o verde. e o pássaro verde. o nevoeiro engoliu a paisagem e engoliu-me a mim. e a rã tirou-me a fala e depois percebi por que é aquele palácio mágico. se fosse de noite, de certeza que me tinha metamorfoseado. de preferência também eu numa rã. que graciosa, pensei.
domingo, 30 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
da desilusão
que país é este? alguém se identifica com os nossos políticos? se ganha a abstenção, as eleições deveriam ser consideradas nulas. e é só. inexplicável. doloroso aquele sorriso inchado daquele político "vencedor" que não vai, como todos nós sabemos, fazer absolutamente nada pelo país e suas pessoas. nada.
posso calar, mas não vou engolir.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
da descoberta
vale mesmo a pena conhecê-la.
descobriu-se, de repente, uma das melhores fotógrafas do século XX.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
da política
Eu não vou votar Cavaco Silva. Eu não voto num falso Estado Social. Eu não voto na discriminação da mulher. Eu não voto no homem que tão más memórias tem dado ao país.
Dia 23, o meu voto, não vai para Cavaco Silva.
Só espero que a abstenção prevista não se concretize. Só espero que Cavaco Silva fique longe de qualquer cargo neste governo.
E é isso.
Dia 23, o meu voto, não vai para Cavaco Silva.
Só espero que a abstenção prevista não se concretize. Só espero que Cavaco Silva fique longe de qualquer cargo neste governo.
E é isso.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
os olhos fixos. o que vês? na escuridão da casa com as pálpebras encerradas sem qualquer golpe de luz, o coração nervoso e as mãos suadas. o que vês? os pássaros. o amor que te tinha e trazia dentro da minha barriga, rompeu-se, perdi-o. está algures em mim. sim, mas diz-me, o que vês? 90 a caírem em simultâneo num caminho enlameado, imaginas? quero correr e fugir daqui para bem longe. parece que não vou conseguir acordar nunca. um peso infernal na cabeça. as persianas corridas, o chão de madeira esburacado com marcas de pequenos dentes, velas, escadas, carcaças. vejo pássaros, ali.
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