quinta-feira, 22 de agosto de 2013

dos corpos deitados



regresso para perto do oceano. aqui estou. com o sol a deitar-se em mais um final de dia. e tantos dias passam e tanto o coração aperta. tantos corpos se deitam em tantos finais de dia que ainda são de dia. tanta injustiça que caminha lado-a-lado com tamanha beleza. e que tamanho temos. e que tamanho têm as montanhas viradas para o mediterrâneo. as fronteiras, a ideia de fronteira, altera-se, agiganta-se. a fronteira traz o medo, a insegurança. a fronteira é a guerra. a fronteira não são rios mas sim mapas manchados de sangue. não consigo virar a cara. fico parada alguns momentos no mesmo sítio com os olhos a inundarem-se de lágrimas. são armas. e são pessoas que morreram ou estão a morrer à entrada dos hospitais e são tantas as crianças. e as mães gritam. e ouço gritos de mulheres. e as câmaras tremem e as imagens dificilmente mentem. e agora? e agora que caminho com o coração cheio de sorrisos e disponibilidade e visão. e fecho os olhos e ainda ouço os grilos e ainda cheiro a humidade do mar e ainda ouço as árvores e ainda vejo os sorrisos e ainda ouço as vozes e os cânticos e ainda danço. e o meu coração dança e rodopia e fico tonta e tão tonta com beleza tamanha. mas o meu coração fica parado. e os meus olhos ficam inundados de lágrimas quando as imagens gritam a injustiça, quando as fronteiras são guerra, porque quando o mundo pára-páro com ele. 

(entre líbano/portugal/síria)