terça-feira, 19 de julho de 2011

do silêncio

«Num romance temos de usar palavras constantemente. Numa peça de teatro podemos usar pausas, cortes e silêncios. É daquilo que não é dito que quero falar, mesmo na minha prosa. Isso foi uma revelação para mim. Sento-me e escuto. Escrevo a partir do que oiço. Não conhecia esta história nem estas duas figura antes de escrever a peça. Isso é o mais interessante: mergulho no desconhecido e regresso com algo que desconhecia anteriormente. Quando era mais jovem não acreditava em nada. Hoje sou um cristão e um místico. O que mudou foi a escrita. Escrever é uma experiência religiosa, sem dúvida. Não sei de onde vêm as palavras. Tudo o que posso comprovar é que as escrevi. Mas não consigo explicar de onde emanam. Não sei quem sou.»

Jon Fosse
a propósito da sua peça I am the Wind
medo. medo. medo. medo. medo. medo. medo. medo. medo.
medo. medo. medo. medo. medo. medo. medo. medo. medo.
e um vendaval por dentro.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

do norte


subida dos montes intermináveis e das escadas cheias de pó. uma nova casa acabada de nascer. o regresso ao campo: apanhar cerejas e ameixas das árvores e comê-las no segundo a seguir. beber licor e vinho do porto na adega do meu tio. ir aos cemitérios onde estão os meus avós. abraçar o Douro. estudar aquelas vinhas infinitas. entrar nas igrejas. chegar ao lugar de baixo e dizer boa tarde a toda a gente. falar com estranhos. deixar a porta de casa aberta. não ter medo das abelhas mas fugir dos besouros se os tocar sem querer. visitar os sítios da infância, os de sempre. fotografar com a memória. guardar com o coração. aquela terra num frasquinho no meu coração.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

do tremor


o sorriso foi mais fácil hoje em comparação aos últimos dias. o coração continua a bater depressa. taquicardia. a ansiedade está no meu pé, que não pára, dança constantemente, abana-se, agita-se, embrulha o meu corpo num tremor constante. força bruta. como se estivesse sempre a envolver-me num casulo para logo de seguida rasgar tudo. um segundo a tecer para no segundo a seguir o rasgar. movimento constante, por dentro e por fora, e palavras a transbordar. e segredos. escondidos nas dobras do corpo. e alguém grita, no meio da estrada - can you feel my heartbeat? e mapas nas ruas todas. e mapas nas mãos e mapas nos cabelos e nos pulsos. e depois os trajectos. os percursos. as linhas nos mapas. o meu futuro desenhado num mapa. a minha vida reduzida a um mapa. atravessar o mar só com os dedos para depois então lá mergulhar os pés. e. continua. não pára aqui. nunca pára por aqui.