As mãos ásperas como as do meu avô, apenas ligeiramente menos inchadas. A trovoada violenta dos primeiros dias de Março, a chuva bem-vinda chuva. As galochas nos pés e o capuz na cabeça. coberta de azul e vermelho, suja de terra. Nem a chuva consegue lavar a terra. E as pedras pequeninas que compõem o caminho da quinta e que me fazem escorregar nas subidas e à beirinha do ribeiro. As galochas que acabam por me proteger de uma queda maior, na água. com a água pantanosa até aos joelhos. e o vermelho do meu vestido a ver-se de longe. os cabelos na boca, empurrados pelo vento, embrulhados na boca. o cuspir do vento que se aloja na garganta, que fica líquido. e os passos deles, a hectares de distância a aproximarem-se da minha casa. É uma quinta bonita em dias de sol e em dias de chuva. Os falcões desafiam os cavalos, os cavalos desafiam as flores e eu desafio a terra. Agarro-a com ambas as mãos como se tivesse fogo por dentro. E deixo que fique perto de entrar no meu sangue. A pele-cal. O sangue-fogo. A mulher.
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