«É verdade que os islamistas se apropriaram das revoltas, mas nas
ruas da Tunísia ou do Egipto continuam também os democratas e as
mulheres.
Há uma resistência da sociedade laica.
Na Tunísia, [Habib] Bourguiba [presidente derrubado em 1987 por Ben Ali]
deu às mulheres o estatuto mais liberal de todo o mundo árabe. Agora,
elas não querem perder esse estatuto. E os islamistas não querem que
elas o mantenham. O problema crucial do islamismo é a sexualidade. O
medo visceral do homem islamista é que alguém veja a sua mulher ou toque
nela. Estão, decidem escondê-la. E há mulheres que aceitam isso, o que é
completamente incompreensível.
Nas manifestações estão mulheres laicas e religiosas.
Sim.
Ao mesmo tempo, a mulher actual, moderna, quer participar na vida e tem
consciência política. Em Marrocos, há mulheres que usam véu e que
trabalham como as outras. É uma questão de grau, às vezes trata-se de
uma reacção contra o Ocidente, que vê a mulher como um objecto, passando
essa ideia através do cinema e da televisão. Há mulheres que, mesmo não
sendo fanáticas, reagem a isso. Não têm vontade de se mostrar assim. Há
uma parte de moralidade no islamismo.»
Tahar Ben Jelloun (Marrocos, 1944)