quinta-feira, 21 de junho de 2012

da distância que se corre


movimento subtil das pestanas a acompanharem o lento fechar dos olhos. o cansaço de um corpo que já não resiste ao vento. à ventania. as portadas das janelas a baterem. a chuva a cair mansa, quase não se ouve. e as janelas a baterem nas portadas a abafar o som do chão molhado, a ser molhado. uma lágrima presa por dentro que desce até ao estômago e vai enchendo e não me deixa ter fome. estou cheia. estou cheia por dentro. preciso de um casaco novo e queria que uma avó me tricotasse um casaco. já não tenho avós e vou pensando no tempo e nas senhoras que talvez me quisessem tricotar um casaco. as ruas são quadros repetidos, é como visitar sempre o mesmo museu. são sempre os mesmos quadros, as mesmas pedras, muros, caixotes. mais valia que fossem ruas impressionistas. mas não são. não questiono a força das minhas pernas apesar das frágeis veias quererem romper a pele. como se tudo quisesse sair de dentro. não questiono a força das minhas pernas porque sei que um dia desato a correr e elas não me deixarão que ninguém me apanhe até pararem num precipício que ecoe e que deixe sair o que tem de sair, até dizer: regresso.

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