quarta-feira, 4 de julho de 2012

do espaço vazio e das circunstâncias


numa voz doce e terna se grita "que se lixem as circunstâncias" e ferozmente se salta de um lugar para outro pelas dobras do corpo e arrancando os segredos dessas dobras. arrancar o coração e dividi-lo como gomos de laranja e, depois, deixem-me sozinha. irei escrever listas todos os dias. não fugir às tarefas. para desarrumar para desorganizar. porque só regressas para desarrumar. sempre. quanto mais tiveres menos terás. menos me terás. e perdes e perdes e perdes e perdes. e vais para a casa a perder. todos os dias. horas sem tempo. a vê-lo passar. aperta-o. esmiúça-o. porque me desamparo quando tropeço. tenho um buraco vazio do lado esquerdo. por dentro da barriga. poderia colocar outro coração nesse sítio e não posso e é por isso que quero chorar e não consigo. já deixei de conseguir chorar, é certo. e o olho direito está inflamado porque no nosso corpo os sinais funcionam sempre do avesso. descobri que são o que são e que sou o que sou e que afinal talvez não o saiba. que descobri palavras nas pedras da calçada porque talvez alguém as tenha gravado em segredo para alguém ler um dia. não existe mágoa quando se constrói. a minha boca está seca. seca, seca. há calor por dentro que seca tudo. calor por fora. o sol, a lua. os dias. hoje choveu. já escrevi na lista. e agora é contar os dias.

Sem comentários:

Enviar um comentário