Sakineh Ashtiani, de 43 anos, não foi morta. Susana, de 23 anos, também continua viva. Em modo rewind. As lágrimas cristalizadas na face a ouvir a palavra "Abrigo". E o estômago embrulhado de ouvir palavras presunçosas e vazias mas ainda assim, irritantemente pertinentes. A inutilidade de olhar para ele, para o gesto, para os olhos, ele que foge com as palavras mais do que foge com o olhar, que só quando não verbaliza é herói. Ele embrulhou-me o estômago. Eu penso na relevância de estar aqui. A escrever isto agora sobre tudo isto que agora penso. Ou finjo pensar. Descobri novos temas, descobri novos métodos de fuga. As minhas mãos brancas secas e gélidas cobertas de arranhões. Uma nódoa verde na minha perna direita, quase junto ao gémeo. A varanda e a vertigem da varanda e o vento. E a sala de aula com cadeiras e um quadro e um professor dentro com colegas muito maiores do que eu. E as cadeiras de veludo que balançam e prendem. E as palavras injustas e armadas. Queres falar sobre ti ou sobre aquilo que queres dizer?! Um alguém me arregala os olhos. Qual é o teu objectivo? Um outro alguém me arregala os olhos mas responde prontamente. Pensar. Só, assim. Pensar. Na sua mais pura ingenuidade, a palavra mais simples, mais desprovida. Pensar.
Agora, eu própria, 23, a desafiar as leis do meu mundo. A quebrar a gravidade. A ter dores de barriga. A não fugir. A confrontar. Agora aguentas-te que já não tens forças para segurar as palavras sozinha.
E tudo isto só para dizer que
é inútil ver
tão útil o
tão útil o
mundo.
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