silencio as palavras que carrego no peito e que me ficam presas nos lábios. não são umas mãos que me irão agarrar. não são cacos. não são vestígios. o outono cai das árvores. passeio entre sementes e folhas secas. castanhas, gatos, corujas, asas que rasgam o céu. e dormir num barco todos os dias e acordar cansada, mais cansada, dias anteriores e dias futuros. o tempo presente é um presente. segundo após segundo. silencio-me só por agora. não quero que saibam de mais nada. olá outono.
sábado, 29 de setembro de 2012
terça-feira, 4 de setembro de 2012
das pedras
«Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.»
Italo Calvino, As Cidade Invisíveis,
trad. José Colaço Barreiros
sábado, 1 de setembro de 2012
na sala com Grão Kan e Marco Polo
«Caminhas sempre de cabeça virada para trás? - ou: - A tua viagem só se faz no passado?
Tudo para que Marco Polo pudesse explicar ou imaginar que explicava ou imaginarem que explicava ou conseguir finalmente explicar a si próprio que aquilo que ele procurava era sempre algo que estava diante de si, e mesmo que se tratasse do passado era um passado que mudava à medida que ele avançava na sua viagem, porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, digamos não o passado próximo a que cada dia que passa acrescenta um dia, mas o passado mais remoto. Chegando a qualquer nova cidade o viajante reencontra o passado que já não sabia que tinha: a estranheza do que já não somos ou já não possuímos espera-nos ao caminho nos lugares estranhos e não possuídos.»
Italo Calvino, As Cidade Invisíveis,
trad. José Colaço Barreiros
Subscrever:
Mensagens (Atom)