Um homem atravessa o passeio com um balde de azeitonas. Os insectos atiram-se a mim. Várias picadas. Atiro o cabelo para trás das costas. Abano o calor. Sorrio para o nada. Estou farta de ouvir dizer que tenho um ar sério. A leveza esconde-se por dentro. Uma gata corre para os meus pés, tropeça nos meus chinelos de dedo, mia, chora, sobe as escadas atrás de mim até ao terceiro andar. Deito leite numa taça, deixo-a beber. Ela enrosca-se no tapete. Olhamos uma para a outra, ela pede para ficar, eu peço-lhe que não me peça. Abro a porta. De manhã voltei a vê-la, àquele pêlo cinzento e dentes pequeninos e afiados, patas adoráveis, miou, pedi-lhe desculpa mas ela não quis nada comigo. A cidade mudou o cheiro, está abafada. As pessoas deixaram de correr, instalaram-se nas cadeiras. Depositam as almas nos contentores. Não sei o que fazer quando a leveza se esconde por dentro. Tenho medo das pessoas. Dos olhares ambíguos, do engano. Quando achamos que conhecemos alguém. É incrível a quantidade de picadas. O corpo é comichão. Entre os seios, uma ligeira irritação. Olhei para a mesma lista vinte vezes. O meu nome não apareceu. O meu nome não apareceu. Como se não tivesse nome. Como se não tivesse direito. Como se alguém achasse que me conhece. Olhei para a lista e: foda-se.
>Respiro.
O hoje é para avançar.
também estive a procurar meu nome numa lista. ele estava lá. mas ainda assim, é como se eu não tivesse nome. e por isso mesmo também disse foda-se. No fundo, percebo que as listas que contam, são as que nós mesmas fazemos.
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