terça-feira, 4 de março de 2014

das quedas



pedaços de escrita pelas paredes. pedaços perdidos pelas camadas densas e sombrias de florestas. as corujas pouco se deixam ouvir agora. a neblina ainda não levantou. a serra continua densa e coberta por nevoeiro. as árvores ainda se agitam e já não parecem saber dançar. um coração ansioso por dentro delas. vão perdendo membros, troncos, como os pedaços de escrita. os pensamentos são demasiado rápidos. continua ansiedade. ao ponto do sangue se esquecer do seu percurso e não descer até à ponta dos dedos. até essa dormência acordar o susto. até esse susto se transformar em amor. não sei ainda o que guarda o interior da minha pele, no ventre, no colo. o sangue não desce. e aqueles pedaços de escrita vão evaporando e confundem-se com as árvores. agitadas pelo vento. os dias no calendário atropelam-se. estamos em março. já estamos em março. apenas um dia no calendário está vazio. apenas um dia e é amanhã e é já hoje e já foi. e o coração continua e vou agitando as asas mais devagar e fechando-as e guardando-as. vou guardar as minhas asas por alguns dias ou meses ou talvez anos. as desilusões são também sustos que assaltam o coração. nem sempre o corpo tem força. nem sempre a voz se quer fazer ouvir. a voz quebra. não se faz ouvir para não estremecer. mas os joelhos estão mais fortes e com os dias podemos sempre aprender. um a seguir ao outro. é só deixar um dia continuar a seguir ao outro. mesmo que se atropelem. mesmo que esses dias continuem a deixar cair algumas das árvores. é condição da vida existir a morte. existir a queda. a minha cabeça roda e gira e roda e não consigo alcançar o fundo. demasiado profundo. mas continuo a cair. outra vez alice. uma e outra vez.

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