e do regresso breve.
sábado, 24 de setembro de 2011
do abraço
o abraço é um eliminar do vazio entre os corpos. o abraço é o apertar do querer. o abraço é vida quando ela percorre todo o gesto. o abraço é a saudade de quando não se sente esse abraço há tempo demais. o abraço é o céu que beija a terra quando sorri. o abraço é a terra que nos segura os pés. o abraço são os peitos das pessoas a rirem. o abraço é o conforto na sua plenitude. o abraço é o adormecer no cansaço dos dias. o abraço é o dizer: estou aqui. o abraço é tudo o que tiver que ser.
era isto que queria dizer. não eram as palavras de mais ninguém.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
do estofo
O que é não ter estofo? É não ter uma capa a proteger os órgãos internos do meu corpo? É por isso que o meu coração quase salta pela boca e o estômago dilata e o fígado tem pontadas? É por isso que escrevo tantas vezes sobre o meu corpo, porque ele dói? Quando eu canto a minha voz fica mais bonita. E eu canto só para mim por isso mais ninguém pode dizer que a minha voz não fica mais bonita. «Mãe, o que é o escuro?» Sabes que ainda me faço essa pergunta? E foi por isso que chorei naquele dia? Porque o escuro são as palavras que ouço da boca de pessoas cinzentas. Tenho medo do escuro. Ainda assim, enfrento o medo todos os dias. Mas agora estou a escrever porque o meu coração está a doer e eu tenho medo quando ele dói. Foi-me diagnosticado palpitações. Será que é isto não ter estofo?
estofo |ô|
s. m.
1. Tecido, pano.
2. Algodão, lã, crina, etc., para chumaços.
3. Enchimento (de tecido, espuma, etc.) que preenche o interior dos móveis que servem para assento ou encosto.
4. Entretela, chumaço.
5. Desenho feito com ponteiro (levantando o dourado).
Fonte: Priberam
E é assim que de repente me sinto um sofá.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
da violência
sussurro nervoso das artérias que ligam ao coração, não me escondo do tremor, enfrento-o com as pernas fracas mas com o coração incendiado. não tenho controlo sobre os meus próprios pulsos e punhos que se encerram sobre si próprios e se envolvem na violência do gesto, a prender a vontade de esmurrar. tenho me defendido sempre com as palavras. são sempre as palavras que salvam. e os olhos, que sem piscar, transmitem a luz que nunca se apaga: não me vences, és igual a mim, não me vences. que se cale a violência - que se solte nas palavras escritas - que a mudança se faça assim - estúpida, mas lúcida.
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